Caixa de Ferramentas da Diversidade

Como incorporar a linguagem neutra na sua redação

Tempo de leitura: 4 minutos
Objetivos

. Ter uma comunicação também feita com pessoas trans no espectro não-binário, intersexo ou que não se sentem representadas pela linguagem “oficial

. Fazer uma mudança estrutural e definitiva

. Aperfeiçoar o diálogo com o público não-binário

Referência

A linguagem neutra tem o objetivo de evitar o cis sexismo nas produções textuais, usado para favorecer o gênero masculino, e pretende acolher pela linguagem pessoas cis dissidentes (pessoas trans no espectro binário – masculino ou feminino -; e pessoas trans no espectro não-binário ou intersexo). A adoção dessa linguagem no jornalismo vem sendo objeto de estudo recente, porém são poucas as experiências. Uma delas é a da Periferia em Movimento.

A Periferia em Movimento adotou a linguagem neutra e impessoal nos conteúdos. A decisão começou pelo uso da linguagem binária seguida da linguagem neutra, a partir da preocupação e da escuta constante da equipe e de observação da sociedade. Depois, ao receber uma orientação de ume profissional trans da equipe, tiveram a oportunidade de fazer uma mudança estrutural e definitiva. Para tanto, foram realizados treinamentos para todes integrantes da Periferia em Movimento, com especialistas no assunto. A mudança foi marcada também por alterações nas publicações, para aperfeiçoar o diálogo com o público não-binário.  

Resultados

. Aperfeiçomento do diálogo com o público não-binário

. Mudança estrutural e definitiva na linguagem adotada nas produções

. Compartilhamento dos conteúdos sobre Linguagens Opressoras e do editorial

Como medir

. Reações da audiência

. Nível de mobilização da equipe para o uso da linguagem neutra

. Conscientização da equipe sobre a importância de se contemplar todas as identidades na produção

Passo a passo

Ouça o seu público. Quando falamos de linguagem neutra, estamos falando do direito à existência. Jornalismo é produtor de sentidos. E, se pessoas não-binárias estão pautando o uso da linguagem como forma de reconhecimento de suas existências, é papel do jornalismo respeitar os diferentes públicos que acessam o seu conteúdo.

Comece a falar sobre o tema. A adoção da linguagem neutra pode começar promovendo eventos e encontros sobre o tema, para que cada integrante da equipe comece a se familiarizar com conceitos e saiba da necessidade real de adoção dessa abordagem nos conteúdos produzidos. A Periferia em Movimento, por exemplo, realizou uma live sobre comunicação com cuidado, para debater linguagens opressoras em gênero e sexualidade.

Traga o tema para a sua equipe.  Faça, em paralelo, formação interna com a equipe, já sensibilizada, para falar em específico sobre linguagem neutra. Essas discussões podem derivar conteúdos diversos sobre linguagem neutra (como um editorial) e também sobre linguagens opressoras no geral, com podcasts e publicações nas redes sociais.

Consulte especialistas. Busque quem está estudando o tema e pergunte como essa pessoa pode ajudar a sua organização a implementar uma estratégia para adotar de forma definitiva a linguagem neutra. 

Desenhe uma transição. Escolha alguns profissionais da equipe para se debruçar em desenhar como será o processo de transição para uso da linguagem neutra nas produções. Podem ser planejados encontros mensais com a equipe, mas também formas uma transição que tenha a participação do público do veículo. 

Parte prática. Estabeleça quais serão as regras que você vai adotar. Para isso, é preciso garantir que as soluções escolhidas sejam apropriadas para o tipo de produção e também as futuras utilizações que sejam feitas dele, ao mesmo tempo em que deve assegurar a visibilidade de todos os gêneros.

Busque referências. Para definir as regras adotadas, busque referências. A Periferia em Movimento tem um editorial sobre o tema, onde expõe algumas das regras adotadas, e também cita outras referências, como o texto “Dicas para escrever sem linguagem específica” e o guia para linguagem neutra. Há também o Guia de Linguagem inclusiva da HBO, que descreve algumas regras usadas no Parlamento Europeu. Estes últimos trazem as seguintes dicas:

  1. Inserção do não binário

Passar a usar a letra E no lugar do O ou A. Exemplo: todes, amigues, etc.

  1. Pronome ILE

Para evitar os pronomes “ela” e “ele”, as pessoas não-binárias podem utilizar “ILE”. Na Periferia em Movimento, é utilizado o pronome “elu”

  1. Uso de termos genéricos: 

O uso de termos genéricos para evitar a utilização de termos específicos quanto ao género

Isso pode ser feito com o uso de nomes sobrecomuns (nomes com um só gênero gramatical):

Exemplo – a expressão «A classe política», em vez de «Os políticos»; e a expressão «As pessoas interessadas», em vez de «Os interessados». 

Isso pode ser feito com o uso de nomes coletivos ou nomes que representam instituições/organizações:

Exemplo – utilizar a expressão «As pessoas responsáveis pela supervisão», em vez de «Os supervisores»; utilizar a expressão «A direção», em vez de «Os diretores».

  1. Substituição de nomes por pronomes invariáveis e frases passivas

Exemplo – utilizar a expressão «Quem proceder à apresentação de um requerimento deve…», em vez de «Os requerentes devem…»; utilizar a expressão «As candidaturas devem ser enviadas até…», em vez de «Os candidatos devem enviar as suas candidaturas até…».

  1. Deixar de usar genericamente a palavra “homem”

Exemplo – usar expressões como «a humanidade», «o ser humano», «a sociedade» ou «as pessoas», em vez do termo «homem». Usar o adjetivo «humano», em vez de «do homem».

  1. Formas de tratamento

Evitar o uso de “senhor/senhora”. Quando não puder ser evitado, usar “senhore”. Para um coletivo, “todes”. Em vez de “amigos/amigas”, “amigues”. No lugar de “ator/atriz”, “atuante”. 

Mobilização constante. O uso de linguagem neutra e impessoal não se restringe a usar tal pronome ou artigo, mas à conscientização sobre a importância de se contemplar todas as identidades. Então, tem que haver um trabalho de mobilização interna constante, que se reflete nos conteúdos produzidos.

Links

https://medium.com/guia-para-linguagem-neutra-pt-br/guia-para-linguagem-neutra-pt-br-f6d88311f92b

https://gay.blog.br/wp-content/uploads/2020/06/manual_fischer.pdf

https://gamarevista.uol.com.br/semana/o-que-voce-disse/linguagem-neutra-onde-estamos/#:~:text=%E2%80%9CA%20melhor%20estrat%C3%A9gia%20para%20utilizar,qual%20a%20pessoa%20se%20identifica.%E2%80%9D

http://periferiaemmovimento.com.br/linguagemneutra/

https://amplifi.casa/~/Asterismos/dicas-para-escrever-sem-linguagem-espec%C3%ADfica

http://www.revistasegundo.unse.edu.ar/lenguaje-inclusivo-nuevo-desafio-para-el-periodismo-joven/

https://en.unesco.org/radioict/press/journalists-advised-use-gender-neutral-language

https://www.washingtonpost.com/world/2019/12/15/guide-how-gender-neutral-language-is-developing-around-world/

https://www.forbes.com/sites/kimelsesser/2020/07/08/how-to-use-gender-neutral-language-and-why-its-important-to-try/?sh=7b99b24d26ba

https://www.cjr.org/analysis/trans-nonbinary-subjects-tips.php

https://www.politize.com.br/linguagem-inclusiva-e-linguagem-neutra-entenda/

http://www.sjpmg.org.br/wp-content/uploads/2020/07/Guia-Todxs-No%CC%81s-de-Linguagem-Inclusiva-HBO.pdf

https://www.europarl.europa.eu/cmsdata/187108/GNL_Guidelines_PT-original.pdf

Pular para o conteúdo