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Como racializar a cobertura da covid-19 a partir dos dados

Tempo de leitura: 3 minutos
Objetivos

. Racializar a cobertura a partir dos dados disponíveis

. Produzir e formatar bases de dados para a cobertura da covid-19

. Trazer histórias a partir de dados que não estão na mídia tradicional

Referência

O Alma Preta é uma agência de jornalismo especializada na temática racial. Iniciada em 2015, por meio de um coletivo de universitários e comunicadores negros, que perceberam a necessidade de produzir jornalismo antirracista no Brasil, o meio tem ganhado notoriedade como referência no jornalismo indenpendente do país. Durante a pandemia, eles têm feito uma cobertura comprometida com a temática racial, trazendo histórias a partir de dados que não estão na mídia tradicional.

O Plural.jor, de Curitiba, também vem se destacando na análise de grandes bases de dados, para encontrar pautas e fazer análises das estatísticas da covid-19 no país e no Paraná. Em uma formação do programa Diversidade nas Redações, Nataly Simões, do Alma Preta, e Rosiane de Freitas, do Plural, compartilharam dicas de como racializar a cobertura da covid-19 a partir dos dados.

Resultados

. Encontrar pautas que interseccionam a questão racial com a pandemia

. Trabalhos usados como referência em audiências públicas

. Produção de pautas que refletem a necessidade das comunidades e audiências do veículo

. Aprender a interpretar e encontrar dados raciais sobre a pandemia 

Como medir

. Impacto em políticas públicas para a população negra e indígena

. Número de reportagem com pautas que abordam a questão racial

. Abertura e produção de bases de dados 

. Feedback dos leitores

Passo a passo

Pensar desde o ponto de vista racial. Uma das primeiras formas de racializar a cobertura sobre a covid-19 é aguçar o olhar para, sempre que for produzir uma pauta, pensar em como as questões de raça perpassam o tema. Por exemplo: se a pauta é sobre o impacto da pandemia nas mulheres, trazer dados sobre mulheres negras. Se a pauta é sobre infância, que tal mostrar como as crianças negras e periféricas têm sido influenciadas pelo contexto da pandemia? Coloque a questão racial como uma questão central na hora de produzir uma pauta.

Dados oficiais e outras fontes. O Ministério da Saúde e outras entidades, como o Conselho Federal de Enfermagem e a Apib, publicam, com periodicidade, dados sobre a pandemia da covid-19 no Brasil. Tanto nos boletins epidemiológicos quanto nas bases de dados, você pode buscar informações específicas sobre a população negra e os povos indígenas.

Cobre os órgãos públicos. Se os órgãos oficiais da sua cidade e estado não divulgarem dados sobre a covid-19 com enfoque racial, publique reportagens e cobre essas informações. Também é papel do jornalista lutar pela abertura de dados que permitam uma cobertura aprofundada da pandemia. Questione ainda a quem não interessa divulgar esses dados.   

Descobrir informações. Nem sempre os dados oficiais irão divulgar todas as informações sobre um tema, às vezes eles são interpretados de acordo com interesse e a partir de alguns vieses. Por isso, ter acesso às bases de dados completas te permitirá fazer análises e, com isso, encontrar narrativas dissidentes das oficiais. É importante também saber interpretar os dados, isto é, fazer perguntas sobre o que você deseja encontrar na base de dados e qual a relevância dessa informação para a cobertura da covid.

Descentralizar a história. Os dados ajudam também a contar as histórias sem colocar toda a responsabilidade sobre ela nas costas dos entrevistados. São importantes porque reforçam os relatos e também mostram que alguns problemas são mais estruturais, portanto coletivos, do que parecem. 

Faça parcerias. Caso você não consiga dados oficiais com enfoque racial, junte-se a outros coletivos e veículos de jornalismo locais para produzi-los. Faça formulários, desenhe metodologias de coleta e busque essas informações na sua rede. Com isso, por exemplo, você pode mostrar como raça, classe social e local de moradia podem ser fatores de risco para a covid-19. 

Enxergar as vulnerabilidades. Apesar de, desde o começo da pandemia, o discurso predominante ser o de que “o vírus não escolhe as vítimas”, você pode pensar em quais as populações mais vulneráveis com menor suporte econômico, político e de infraestrutura para passar pela crise sanitária. Quem são as pessoas que precisam sair de casa para trabalhar, como empregadas domésticas e trabalhadores rodoviários? Quem está na linha de frente, se expondo ao vírus?

Paute comunidades tradicionais e quilombolas. Busque informações sobre como a pandemia tem impactado comunidades tradicionais e quilombolas, assim como de que forma o poder público e as políticas públicas, como a vacinação, têm chegado a essas pessoas. Há falhas no acesso, no cuidado e na prevenção? Você pode obter dados no Observatório da Covid-19 nos Quilombos, da Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas (Conaq). 

As fontes. Quais são as fontes que você está entrevistando nas matérias sobre a covid-19? Busque especialistas negros e indígenas quando for falar sobre virologia, acesso a serviços de saúde, saúde da população periférica, vacina, entre outros temas pertinentes na pandemia. 

Cuidado com as identidades. Muitas pessoas têm medo de serem expostas e, por isso, evitam dar depoimentos a jornalistas. Pense em como não expor pessoas em situação de vulnerabilidade, ao tratar de algum tema relacionado à pandemia, e seja fiel ao relato que foi dado para você. Na dúvida, na hora da entrevista, pergunte se a pessoa deseja ser identificada. 

Link

https://almapreta.com/sessao/cotidiano/em-sao-paulo-um-em-cada-quatro-negros-perdeu-o-emprego-na-pandemia

https://almapreta.com/sessao/cotidiano/mulheres-auxilio-emergencial-pandemia

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