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Como cobrir a violência policial sem desrespeitar as vítimas

Tempo de leitura: 3 minutos
Objetivos

. Repensar a cobertura da violência policial

. Produzir conteúdos que respeitem as vítimas e suas famílias

. Evitar reprodução de estereótipos e do racismo estrutural

Referência

O assassinato de George Floyd por policiais, no estado de Minnesota, Estados Unidos, e a mobilização contra a violência policial motivada pelo ocorrido levou algumas redações estadunidenses a repensarem a cobertura da violência policial. Alguns veículos fizeram auditoria da cobertura de questões raciais. Outros lançaram iniciativas para rever como a cobertura de casos anteriores impactou nas comunidades negras e responsabilizaram-se publicamente pelo resultado. 

Em um artigo para o Nieman Reports, Adeshina Emmanuel, editor-chefe do Injustice Watch, uma organização jornalística que realiza pesquisas sobre falhas institucionais na Justiça, elencou aprendizados sobre a cobertura policial deixados pelo movimento Black Lives Matter e os recentes casos de violência policial nos EUA.

Resultados

. Maior respeito às narrativas das vítimas e suas famílias

. Mudanças na conduta policial depois da publicação de reportagens

. Abordagens mais interseccionais da violência policial

Como medir

. Auditoria das reportagens sobre violência policial

. Feedback de ativistas sociais e das comunidades reportadas

. Auditoria de fontes ouvidas nas reportagens sobre o tema

. Diversidade na equipe que cobre o assunto

Passo a passo

Quem vai contar a história. Na hora de escolher como vai narrar um acontecimento, pense em quem vai estar na centralidade dos fatos. Escolha os relatos dos participantes dos protestos ou das vítimas da violência policial em detrimento dos relatos dos policiais ou da preocupação com os danos às propriedades.

Abordagem interdisciplinar. Procure apurar adotando uma abordagem interdisciplinar, isto é, apure, investigue e examine observando todos os poderes por trás de como a história está sendo divulgada. Por exemplo, qual a relação das plataformas de redes sociais com o esquema de monitoramento da polícia do feed de ativistas sociais?

O que vale a pena ser contado. Para contar histórias mais detalhadas sobre as vítimas da violência policial, não é preciso vasculhar o passado da vítima para destacar um antecedente criminal. A violência policial em questão não precisa estar vinculada a esse histórico. 

O contexto é a chave. A violência policial não acontece do nada. Vivemos em uma sociedade que cria condições para a violência policial, principalmente contra pessoas negras. A polícia faz parte de um sistema no qual os negros vivem em comunidades mais vulneráveis, pobres, super-policiadas e devastadas pelo encarceramento em massa.

Tirar o foco das propriedades. Em muitos casos, nos concentramos menos nas preocupações dos manifestantes ou no tratamento policial e mais nos aspectos dos protestos que podem incomodar ou assustar o público do veículo, como bloquear o trânsito na hora do rush, danificar propriedades ou exibir outro comportamento “violento”. Essa abordagem não contextualiza o protesto nem visibiliza a causa em questão ali.

Evite “relações extrativas” com vítimas de violência policial. É preciso explicar às vítimas sobre como a reportagem irá agregar valor à sua comunidade e informar à comunidade diretamente quando a matéria foi publicada, para obter feedbacks e responder a preocupações ou outras necessidades de informação. Continuar um relacionamento com – e fornecer valor para – fontes e leitores é essencial.

Preocupe-se em preservar a segurança da vítima e de pessoas próximas. Organizadores negros e ativistas de esquerda há muito se preocupam em se tornar alvos da vigilância do estado ou de outra retaliação, fazendo alguns relutantes em serem identificados em fotos ou nomeados em matérias. É importante garantir sigilo, caso a pessoa peça. 

Busque soluções. Evite relatos que apenas perguntam para as vítimas da violência policial sobre o impacto da violência nas suas vidas, busque soluções para seus casos e abra espaço para falar sobre problemas estruturais mais amplos.

Não pergunte apenas o quê, mas também o porquê dos fatos. Ao buscar informações sobre uma vítima de violência policial, pense o que daquela história de vida reflete, por exemplo, o racismo estrutural. Busque saber quais as experiências de violência policial que pessoas próximas à vítima ou dentro da mesma comunidade dela já viveram. 

Diversidade na redação. As redações são espaços, em sua maioria, feitos por pessoas brancas de classe média e alta, que não conhecem a realidade das periferias e das pessoas negras. Por isso, são comuns erros, violações de direitos humanos e perpetuação de estereótipos na cobertura, descaracterizando a natureza dos esforços anti-racistas – ou ignorando-os completamente – e relatando injustiças sem contexto histórico ou enquadramento crítico. Uma cobertura respeitosa requer trazer mais representatividade e diversidade para dentro das redações.

Link

https://niemanreports.org/articles/spurred-by-black-lives-matter-coverage-of-police-violence-is-changing/

https://www.injusticewatch.org/

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