Caixa de Ferramentas da Diversidade

Como respeitar a diversidade no fotojornalismo

Tempo de leitura: 4 minutos

Objetivos

. Produzir fotografias que respeitem a diversidade de corpos e territórios

. Evitar a reprodução de estereótipos por meio das imagens

. Refletir sobre a diversidade a partir da imagem no fotojornalismo

Referências

A imagem traz informações relevantes para a compreensão dos fatos, pois pode descrever de forma ágil um objeto, um gesto, pode indicar um momento chave para análise de um acontecimento e pode motivar um relato. Uma foto pode ser uma necessidade estética da narrativa ou até de acessibilidade, para comunicar uma informação a pessoas que não sabem ou não podem ler.  Por isso, uma imagem pode convocar a gestos e interpretações, não é neutra e pode produzir estereótipos de raça, gênero, território, etc. A partir dessas questões, o professor Ronaldo Entler, da rede da Énois, propõe um caminho para repensar o uso da imagem dentro do jornalismo.

Resultados

. Fazer fotografias que não reproduzem estereótipos no fotojornalismo

. Trazer diversidade para as imagens publicadas em conteúdos jornalísticos

. Maior senso de responsabilidade com as imagens publicadas

Como medir

. Analisar as fotografias ou vídeos publicados no seu meio de comunicação

Passo a passo

Apelação. Às vezes, a imagem tem a função de encantar o olhar do leitor/espectador, mas é preciso ter cuidado para não transformá-la em algo apelativo, reduzir um acontecimento importante a um espetáculo. É preciso sempre avaliar, caso a caso, o uso de uma imagem e quando, na verdade, isso o que está ocorrendo é uma exposição desnecessária.

Bancos de imagem. É preciso tomar cuidado com as imagens retiradas de bancos de imagens. Utilizar fotografias de corpos, famílias, casas, trabalhos e escolas genéricas pode reforçar violências, afinal essas fotografias são normativas e transmitem apenas uma narrativa. Por isso, ao escolher usar imagens, procure aquelas que acrescentam à narrativa da sua reportagem, que não reproduzam nenhum tipo de normatividade ou ações genéricas. O jornalismo não deve ser vendável, mas representativo e inclusivo.

Pessoas e corpos diversos. Quando falamos de narrativas jornalísticas que prezam as diversidades, também estamos falando de reportagens comprometidas em romper com os estereótipos sociais. Assim, é preciso tomar cuidado com imagens que reforcem violências, cenas de agressão e  extrema pobreza, por exemplo, devem ser usadas com muita cautela. Às vezes, a melhor saída para a narrativa da matéria, são imagens de corpos diversos com aspectos de suas vidas sociais, afetivas e culturais, que são igualmente representativos dessas histórias.

Flagrante. O jornalismo mais tradicional valoriza imagens espontâneas e que sejam flagrantes da situação das matérias. Essas imagens, também consideradas denúncias, podem invadir a privacidade de quem está sendo fotografado, e reforçar ainda mais violências e assédios. Assim, fotógrafas e fotógrafos locais que fazem fotojornalismo podem conseguir confiança com as personagens da reportagem, e construir imagens através do consentimento, que mesmo montadas, mas que retratem o que a reportagem quer falar ou denunciar.  Um exemplo é mudar a forma de cobrir as violências que ocorrem dentro de uma periferia, trazendo a imagem que os moradores daquele local gostariam de ver.

Agilidade. A agilidade de captar o momento nem sempre é a melhor forma de registrar um acontecimento. É importante comprometer as imagens com um percurso, que pode ser o percurso do olhar que se aproxima de um acontecimento, ou o percurso do pensamento que tenta dar a esse acontecimento um sentido. Pode ser generoso com todos os sujeitos implicados – retratados e leitores – revelar nas imagens a hesitação que toda realidade complexa impõe a quem tenta entendê-la, porque a história e a identidade de uma pessoa ou lugar são feitas também dos pequenos detalhes que as cercam.  

Fotografia local. Uma das formas de conseguir imagens autênticas, que podem ser representativas e que respeitam as diversidades, é fomentar a fotografia local. Parceirar a reportagem com um fotógrafo ou fotógrafa do seu território, é uma forma de conseguir uma imagem que não seja invasiva, feita por alguém que não conhece apenas a história, ou a denúncia da matéria, mas o território das personagens, e até mesmo as personagens.    O Canal Reload é um exemplo de produção por celular e feita por jovens, um formato diferente de pensar e distribuir informação. Outro exemplo é o que faz a jornalista, produtora audiovisual e cultural, e produtora de formações na Énois, Glória Maria, assim como Fernando Sato, do Jornalistas Livres.

Proximidade. Ao invés de buscar sempre o diferente, a fotografia deve também mostrar aquilo com que o olhar se identifica. Mostrar o mundo a partir de dentro é um modo de empoderar-se dos discursos sobre si e restituir lugares de fala, trazendo não apenas uma observação, mas a experiência dos acontecimentos, tal e qual eles foram vividos ou sentidos. Essas vivências e sentimentos são dados que também fazem parte da realidade. 

Como você se aproxima. A narrativa que você produz será tanto mais legítima se contar também a história de sua aproximação. Isso pode ser feito revelando os dispositivos técnicos, a interferência que a produção da imagem gera na rotina desse outro, mas também por meio do texto que acompanha a imagem. E, se sua presença gerar desconforto, não hesite em compartilhar a autoria da narrativa com as pessoas que são os sujeitos dos acontecimentos: você pode dividir com elas sua câmera ou, pelo menos, a responsabilidade pela roteirização e pela direção da cena.

Contexto. Uma imagem deslocada de seu contexto, que faça de um instante circunstancial uma situação emblemática ou geral, com uma legenda que força interpretações abusivas: essas situações são, na maioria das vezes, resultados de uma edição mal-intencionada. Prestar atenção e contextualizar as imagens é fundamental, ainda mais em função da disseminação de desinformação e fotos fora do contexto para enganar pessoas nas redes sociais.

Ficou na dúvida? Se você ficou na dúvida se está reproduzindo violências por meio da imagem, o guia de fotografia inclusiva, da Authority collective, recomenda que você se faça as seguintes perguntas:

  1. Estou perpetuando narrativas estereotipadas com o meu trabalho?
  2. Já considerei como a minha perspectiva ou privilégio pode ter efeito em como me aproximo da fotografia?
  3. Quais são as consequências prováveis da publicação da minha fotografia? Quem será

prejudicado? Quem será ajudado?

  1. Ao selecionar fotografias de outros países e de populações em risco, estou aplicando o mesmo rigor como eu faço para as fotografias da minha própria comunidade?
  2. A minha abordagem estética é construída sobre estigmas usados para desumanizar África, Ásia e o povo latino-americano?
  3. Como posso expandir os tipos de pessoas, locais e organizações a partir dos quais desenho a minha história, ideias e ângulos?
  4. Quanto tempo passo com as pessoas e comunidades antes de fotografar eles? Reservei tempo para fazer a minha investigação e perguntas sobre questões subjacentes e contexto da comunidade ou grupo que vou fotografar?
  5. Os fotógrafos que admiro ou sigo nas redes sociais são, na sua maioria, brancos de países ocidentais?
  6. Quando viajo para um país estrangeiro para fotografar, tento encontrar fotógrafos desse país para aprenderem como vêem as suas próprias comunidades?
  7. Quantas fotografias vencedoras de prêmios apresentam pessoas negras do Sul global? Quantos dos fotógrafos que ganharam os prêmios são dessa demografia?

Links

https://authoritycollective.org/

Guia de diversidade no fotojornalismo

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