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Como cobrir crimes de ódio e outros ataques a populações vulneráveis

Tempo de leitura: 3 minutos
Objetivos

. Qualificar a cobertura de crimes de ódio

. Mapear os efeitos dos crimes de ódio nos territórios

. Produzir reportagens que influenciam nas políticas públicas contra crimes de ódio

Referência

Diversos ataques a grupos raciais, étnicos e religiosos se incluem na categoria crimes de ódio, isto é, aquela forma de violência onde os alvos são escolhidos por determinadas características ou por integrar um grupo social específico. No Brasil, foram 12,32 mil crimes dessa natureza em 2019, segundo esta matéria do projeto Colabora com base no Mapa do ódio, da ONG Words Heal the World.

Cobrir esse tipo de violência requer algumas condutas e cuidados. Em um painel realizado pelo National Press Club Journalism Institute, jornalistas do Washington Post, News 12 Network e do CQ Roll Call, junto a uma palestrante e educadora do Southern Poverty Law Center, compartilharam dicas sobre como cobrir esses casos.

Resultados

. Cobertura dos casos completos e suas repercussões, para além do dia do ocorrido

. Fortalecimento do discurso de comunidades sujeitas aos crimes de ódio

. Criação e mudanças nas políticas públicas contra os crimes de ódio

Como medir

. Feedback das comunidades afetadas pelos crimes de ódio

. Impacto em políticas públicas

. Análise qualitativa e quantitativa das publicações realizadas sobre o tema

Passo a passo

Entenda o que constitui um crime de ódio. O primeiro cuidado na cobertura é anterior a ela, na verdade. Os jornalistas precisam se familiarizar com o conceito de crime de ódio. Nos Estados Unidos, o FBI define um crime de ódio como uma violência tradicional – agressão, assassinato, vandalismo -, mas cuja motivação tem um elemento de preconceito de raça, religião, deficiência, orientação sexual, identidade de gênero, gênero ou etnia. No Brasil, não há uma tipificação, exceto para o feminicídio, o que contribui para a subnotificação de casos. Entender e publicar sobre o conceito é também ampliar as chances de as vítimas se reconhecerem nesses casos, principalmente porque provar a motivação do crime de ódio ainda é um desafio.  

Concentre a cobertura no impacto junto à comunidade, seja o caso legalmente classificado como crime de ódio ou não. Embora a tipificação de um crime de ódio seja importante para a questão legal, a nomeação de um caso não define  como os membros da comunidade envolvida se sentem diante dele. O medo, mediante o ocorrido e suas repercussões, não acompanha a legislação. O recomendado, então, é que os jornalistas procurem as pessoas da comunidade para perguntar como elas se sentem, se entendem o caso como um crime de ódio, independente do curso da investigação. Isso deve ser acompanhado de uma pressão junto aos investigadores, para saber se o caso está sendo investigado como um crime de ódio.

Casos não são isolados. Os crimes de ódio não são casos isolados, sempre que há uma ocorrência, há um aumento de casos visando um determinado grupo específico. Por isso, os jornalistas devem buscar as autoridades, verificar o discurso por trás de cada caso, além de combater as desinformações que estão sendo divulgadas depois de cada episódio.

Vá além da comunidade envolvida. Para trazer todas as nuances da cobertura, busque membros de comunidades semelhantes àquela que está sob ataque. Isso mostrará, segundo os jornalistas estadunidenses, permite descortinar as narrativas de soluções e enfrentamento ao ódio desenvolvidas dentro dessas comunidades. Isso, falar das respostas da comunidade, também faz parte da cobertura. Eles recomendam fazer conexões por meio de coletivos religiosos, ONG e lideranças comunitárias. 

Reserve um tempo extra para as entrevistas. Uma pessoa que foi vítima de um crime de ódio pode estar sendo entrevistada pela primeira ou segunda vez. Ela carrega dores e traumas. Perceba isso além do que é dito nas palavras. Nem sempre, a forma de expressar esses sentimentos deixados pelo ocorrido virá na entrevista em palavras, por isso é interessante guardar um tempo maior para estabelecer essa conexão. 

Acompanhe o caso. Muitas vezes, cobrimos um crime e depois não acompanhamos a evolução da investigação. Seguir na cobertura permite saber como a polícia e a justiça lidam com crimes de ódio, possibilita encontrar outras pautas, faz com que a resolução do caso permaneça sendo relevante para as instituições de poder e ajuda no fortalecimento do discurso das comunidades. Isso pode impactar, inclusive, na criação de políticas públicas efetivas sobre crimes de ódio.  

Links

https://www.pressclubinstitute.org/event/hate-crime-coverage-how-journalists-can-get-it-right/

https://www.pressclubinstitute.org/2021/06/10/nobody-is-ever-just-a-victim-6-tips-for-journalists-covering-hate-crimes/

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